sábado, 26 de janeiro de 2008

Concursos públicos. Solução ou Problema?

Atualmente vejo no Brasil uma crescente onda muito agitada em torno dos concursos públicos.
Artigos e matérias inteiras dedicadas ao assunto. Fiz uma rápida busca na Internet e não encontrei nada que fale sobre como eu vejo algumas coisas relacionadas a este tema. Então resolvi escrever.

Websites e algumas revistas mais renomados do país têm abordado esse assunto com veemência, o que abre cada vez mais os olhos de milhares de pessoas que estão em busca de um emprego.
A edição de número 2013 da revista Veja, por exemplo, estampou em sua capa o tema "Concurso Público", e dedicou 9 páginas para a matéria enaltecendo os concursos como uma alternativa que vale à pena profissionalmente, baseando-se em argumentos de profissionais especialistas no assunto, casos de sucesso, e estatísticas.
Concursos em 2008 é o conjunto de palavras mais buscado na web atualmente.
Vejo discussões sobre o assunto nos mais variados lugares. Até na fila do pão.
De repente eles(os concursos públicos) se tornaram o "salvador da pátria".

Se pararmos pra pensar, de modo geral, o que as pessoas buscam em um trabalho concursado?
Na maioria esmagadora das vezes, a famigerada "segurança" no emprego. Isso é o que me assusta. Enquanto os maiores homens da história fizeram de tudo para sair da "corrida dos ratos" (citada por Robert T. Kyyosaki em Pai Rico e Pai Pobre) , a maioria brasileira luta para entrar nela.
Esclarecendo, de maneira bem leiga, as pessoas buscam a segurança de receber um salário que dure tempo suficiente para receber outro, que dure tempo suficiente para receber o próximo e assim sucessivamente. Depois de algum tempo nessa rotina, elas passam a falar mal do governo porque os aumentos são pequenos e demorados. No caso da iniciativa privada ocorre o mesmo, mas a insegurança de não ser concursado e a possibilidade de ser demitido de uma hora pra outro só aumenta a angústia. Essa é a "corrida dos ratos".

Não sou contra concursos públicos, nem contra quem os faz. Eu mesmo já fiz. Mas a mentalidade que tem se formado em torno disso me assusta. Cheguei a ouvir absurdos como "vou passar no concurso para trabalhar com os pés sobre a mesa e tomando água" ou "vou mamar nas tetas do governo" ou "se eu passar nesse concurso, estou com a vida feita, não fico mais desempregado". A vida profissional para uma pessoa que pensa assim está morta, ainda que seja jovem.

Muita gente luta tanto para entrar na "corrida dos ratos" e logo depois culpa o patrão (iniciativa privado ou governo) pelos salários baixos.
Boa parte desse pensamento se deve, também, à cultura educacional do nosso pais. Crescemos ouvindo que temos que estudar, ser um bom aluno, se formar e teremos um emprego bom e seguro. O que aconteceu com os cursos de Direito recentemente foi apenas a ponta do Iceberg. Muita gente faz direito apenas para estudar pra concursos públicos, as consequências só podem ser as que foram (charge que ridiculariza o que aconteceu: Confira). Nota 1 !? Eu espero que ninguém da área de direito se sinta ofendido, mas infelizmente isso acontece muito, com apenas algumas exceções. Esse tipo de pensamento acaba com o senso criativo de qualquer pessoa. Cresce-se moldado a um padrão sem saber disso. As coisas mudaram e a cultura e educação não evoluíram junto.
O que as pessoas sabem sobre investimentos? Sobre contabilidade? Sobre dinheiro? Pouca coisa, de um modo geral, e por isso elas entram nesse clico de querer um emprego seguro com salário suficiente para durar até vir o próximo.
Usar um concurso público como um "empurrão" para crescer na vida é, e muito, útil. Bem como uma aprovação vale, e muito, para o currículo. Agora pensar que é a salvação, é no mínimo, um grande equívoco.

A tendência de quem entra em um emprego concursado é achar que vai ganhar trabalhando pouco, e não raras vezes, é isso o que ocorre. Cria-se um vício. O poder criativo vai embora, e claro, a vontade de empreender que alguns podem ter, também. O maior objetivo profissional passar a ser a aprovação em um concurso maior. (Logicamente, há exceções)
Essa é a diferença básica entre um jovem brasileiro e um americano. O Brasileiro quer ter um bom emprego, o americano quer gerar empregos. Eu presencio muitos "desperdícios" de capacidade empreendedora. Sim, chamo desperdício alguém com potencial para criar uma grande empresa que acaba dando aula em uma faculdade pública, depois de terminar um doutorado. Tenho colegas brilhantes que estão trilhando este caminho, o mesmo de milhões de brasileiros atrás de um concurso público para "salvar a pátria".

Ou eu estou muito doido por nadar contra a maré, ou tenho a chance de pertencer aos poucos que souberam ver as coisas com uma visão diferenciada.
Concurso público como passo para conquistas (bem) maiores? SIM!
Concurso público como objetivo de vida de ter um emprego "seguro"? NÃO!

Espero ter aberto a mente de algumas pessoas para não entrar na "corrida dos ratos".

Sintam-se à vontade para comentar qualquer coisa. Estou disposto a discutir, seja através de concordância ou não com meu modo de pensar.

Abraços e Beijos!

L.F

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